sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

A carta espúria de Dionísio, o areopagita, sobre a assunção de Maria


A doutrina católica de que Maria foi elevada ao céu em corpo e alma é uma ficção que não tem nenhum tipo de evidência histórica, bíblica ou patrística que a valide. De modo que a única forma de tentar dar-lhe alguma credibilidade é utilizando fontes apócrifas e fraudes.

Já aqui fizemos referência ao sermão apócrifo de Agostinho e a carta espúria de Jerónimo sobre a assunção de Maria aos céus. Agora é a vez de fazer justiça a Dionísio o Areopagita.

Dionísio é referido por alguns sites católicos romanos e ortodoxos como uma testemunha da crença na assunção/dormição de Maria já no século I. Por exemplo, um texto que é replicado em vários lugares é este: 

O texto mais antigo relatando a Assunção de Virgem Maria é o texto de Dionísio:

Dionísio o Areopagita, sobre a Dormição da Deípara

Dionísio o Areopagita (+ 96dC), sobre a Dormição da Deípara:

“Pois até mesmo entre os nossos hierarcas inspirados, quando, como tu sabes, nós juntamente com ele [um presbítero ateniense chamado Hierotheos] e muitos de nossos santos irmãos se reuniram para contemplar aquele corpo mortal [de Maria], Fonte da Vida, que recebeu o Deus encarnado, e Tiago, irmão de Deus [isto é, Tiago de Jerusalém] estava lá, e Pedro, o chefe maior dos escritores sagrados, e então, depois de terem contemplado isso, todos os hierarcas ali presentes celebraram, segundo o poder de cada um a bondade onipotente da fraqueza Divina [ou seja, que Deus se fizesse homem]”.

“Naquela ocasião, eu digo, ele [isto é, Hierotheos] ultrapassou todos os Iniciados com exceção dos escritores divinos, sim, ele estava completamente transportado, completamente absorto, e ficou tão emocionado através da comunhão com aqueles mistérios que ele estava comemorando, que todos os que o ouviram, viram e conheceram (ou melhor, não o conheceram) considerou que ele foi arrebatado por Deus e um hinografo divino”.

Fonte: Dionísio o Areopagita - Sobre os Nomes Divinos 3:2 

No entanto, este documento sobre o qual católicos e ortodoxos elaboram a sua doutrina é espúrio. Quaisquer semelhanças no texto com noções gnósticas não são mera coincidência.

A Catholic Encyclopedia no tema da assunção de Maria diz o seguinte: 

A crença na assunção corporal de Maria está fundamentada no tratado apócrifo de De Obitu S. Dominae, que traz o nome de São João, o qual no entanto pertence ao quarto ou quinto  século. Também é encontrada no livro De Transitus Virgines, falsamente atribuído a Melitão de Sardes, e numa carta espúria atribuída a Dionísio o Areopagita. Se consultarmos escritos genuínos no Oriente, a crença é mencionada nos sermões de Santo André de Creta, São João de Damasco, São Medestus de Jerusalém e outros. No Ocidente, São Gregório de Tours (De gloria mart., I, iv), foi o primeiro a mencioná-la.

Holweck, Frederick. "The Feast of the Assumption." The Catholic Encyclopedia. Vol. 2.New York: Robert Appleton Company, 1907.

E relembrando o que diz Ludwing Ott, um famoso teólogo romano, no seu Manual de Teologia Dogmática:

"A ideia da assunção corporal da Virgem encontra-se expressa primeiramente nos relatos apócrifos sobre o trânsito da Virgem, que datam dos séculos V e VI... O primeiro escritor eclesiástico que fala da assunção corporal de Maria, seguindo um relato apócrifo do Transitus B.M.V. é Gregório de Tours (m. 594)..." (p. 328).

Portanto, se quisermos consultar escritos autênticos que mencionem a crença na assunção de Maria, temos de ir a autores que viveram muitos séculos depois do suposto evento e a nenhum texto de Dionísio o Areopagita.

domingo, 1 de janeiro de 2017

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